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  • Foto do escritorBianca Brito

Visibilidade no futebol feminino: por que só agora?


A Copa do Mundo Feminina da França começa hoje, onde estamos assistindo uma mudança bem de perto, das marcas apoiando os times, público interessado e espaço na mídia. Mas a história nem sempre foi assim. Ela passou por preconceitos, injustiças e tantos outros termos que poderíamos utilizar. E como elas chegaram até aqui? De uma forma: RESISTINDO.

Para falarmos sobre isso, convidamos algumas mulheres que estão antenadas, assistindo de perto e até mesmo sentindo na pele cada uma dessas mudanças.

Natalia Lara (Radialista/ Locutora/ Narradora)

Minha relação com os esportes começou muito cedo, quando eu era bem criancinha mesmo. As minhas primeiras lembranças são de jogar futebol com meu pai e com os meninos que moravam no mesmo condomínio que eu, e de assistir, também com meu pai, a partidas de futebol, F1 e olimpíadas. Sempre recebi muito incentivo, e muitas vezes no meu prédio era chamada de “a Formiguinha”, porque jogava até que muito bem. Agora minha paixão é por transmitir e passar as emoções dos maiores eventos esportivos do mundo.

Rachel Motta (Historiadora / Apaixonada por esportes em geral)

Quem me apresentou uma bola pela primeira vez foi meu tio Edvaldo, o irmão mais novo da minha mãe e que era meu babá. Como ele era mais velho, gostava de me fazer de bobinha a todo instante - o que me irritava bastante. Meu pai e minha mãe nunca me censuraram. Na escola, as inspetoras costumavam me repreender porque eu jogava bola com os meninos, mas eu nunca liguei para isso.

Elaine Trevisan (Jornalista/Narradora)

Eu sempre fui apaixonada por futebol. Jogo desde criança, jogava futsal no clube que era sócia na minha cidade e também cheguei a jogar futsal pelo time de Catanduva, assim como futebol de campo. Acabei optando pelo jornalismo e para não deixar minha paixão de fora foquei no jornalismo esportivo, desde projetos acadêmicos até minha carreira profissional.

O início de toda essa história

A história da mulher no futebol sempre foi ligada a desafios para ser levada a sério. Você sabia que nos primeiros registros, o futebol feminino aparece como atração de circo? Pois é… Em 1941, um decreto decidiu que: Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza. Foram 38 anos de proibição que reforçava a mensagem de que “futebol não era coisa para mulher”. Só em 1983 o futebol feminino foi regulamentado.

“Ter a Copa do Mundo de Futebol Feminino acontecendo sobre os holofotes do Mundo inteiro e vendo uma transmissão no Brasil na TV aberta - 40 anos depois da suspensão da proibição do Futebol Feminino no país - reflete o resultado da luta das gerações que nos antecederam. Marisa (nossa capitã de 1988), Ceci, Pretinha, Formiga... Aliás, nossa craque que provavelmente se despedirá da seleção este ano.”, destaca Rachel.

Aqui as coisas começaram a mudar...

A Copa do Mundo Feminina teve sua primeira edição apenas em 1991, sendo que a Masculina acontece desde 1930. Assim podemos entender como ainda é difícil ganhar espaço em um esporte que ainda coloca a maior parte de seus holofotes apenas nos homens.

Em 1999, mundial nos EUA, chegou a primeira medalha da seleção feminina do Brasil. Em 2003, o Brasil chegava a mais uma Copa do Mundo, desta vez, com Pretinha, Milene Domingues, Marta, Formiga e tantos outros nomes emblemáticos. Mas os holofotes só se voltaram realmente para o futebol feminino em 2016, nas Olimpíadas sediadas no Brasil.

“Foi quando tivemos o primeiro “boom” de audiência com a seleção brasileira, mas que infelizmente teve um fim triste. As meninas perderam em casa e o masculino levou o ouro, o que não é ruim, mas que fez o feminino perder sua força e prestígio, e consequentemente a modalidade voltou a ser deixada de lado.” (Natália Lara)

As mudanças de lá pra cá impactaram não só as jogadoras, mas todas as pessoas que trabalham muito próximo a este esporte ou são apaixonadas por ele.

De acordo com Elaine, isso chega também até a comunicação, abrindo espaços para as mulheres. Agora temos mulheres nas entidades esportivas, como na Federação Paulista de Futebol. E elas também trabalham pelo espaço das outras. Isso é mais que cooperativismo, é empatia, é sororidade. Quem é a favor do movimento se fortalece.

Atualmente podemos acompanhar que há uma cobrança ainda maior por parte do público em buscar conhecimento sobre o futebol feminino, e a partir disso as mídias começaram a se abrir ainda mais, apostar no assunto dentro de sua programação e até mesmo realizar transmissões. Mas continua não sendo tão fácil assim.

“Ainda é muito difícil conseguir informações quando vou narrar algum jogo da modalidade. Existem equipes que são extremamente difíceis de encontrar se quer uma ficha técnica, quem dirá uma cobertura jornalística (entrevista, perfil, matéria, etc) que fale sobre.” ressalta, Natalia.

Além da mídia, outra parte fundamental no processo de crescimento do esporte é o investimento. Na Copa do Mundo deste ano sentimos uma grande diferença quanto a isso. Marcas se engajaram e, principalmente, se posicionaram chamando outras para investirem no futebol feminino. Nike, Guaraná Antarctica e Boticário estão fazendo um trabalho inspirador.

Em 2019, pela primeira vez, a Copa do Mundo Feminina será transmitida em rede aberta, e isso pode ser considerado mais um marco na história de todas nós.

“O futebol feminino está vivendo um momento muito importante e interessante, algo que eu tenho certeza que está muito atrelado com a luta das mulheres para a conquista de maiores direitos, da equidade e da igualdade de gênero. Estamos conseguindo fazer a mudança acontecer. Acredito estarmos em um ponto onde não há mais volta, felizmente. Ainda temos muito caminho pra frente pra poder crescer, mas estamos chegando.”, ressalta Natalia.

“As conquistas são assim mesmo. Demoradas. Revoluções são mais rápidas. Elas quebram paradigmas de forma repentina. Por isso eu não concordo com quem diz que em nosso país estamos tendo uma revolução. É apenas mais uma engrenagem nesse longo processo de amadurecimento e desenvolvimento do esporte no país”, diz Rachel.

“Essa mudança é sociocultural não é só no futebol. Temos um levante das mulheres não só no futebol. Uma onda de feminismo não só no esporte, mas na política, na sociedade e com um canal em que não há mais padrão, a internet. Se antes não tínhamos espaço nas mídias tradicionais, agora criamos na internet.” Elaine

Estamos assistindo uma mudança incrível bem de perto, e nós, como telespectadores e telespectadoras amantes do futebol e principalmente agências, temos o dever de colocar o futebol feminino em pauta, apoiar, explorar possibilidades, dar voz e espaço à essas meninas que se esforçam tantas vezes mais que os homens por um destaque tão pequeno.

Podemos mudar isso, basta querer (e nós queremos).

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